A cadeira vazia

*“A cadeira vazia!”* A espetacularização da segurança pública no Brasil foi aguçada pela atuação de cavernosos atores e fatos. No Regime Militar, através do Decreto-lei 667/1969, majores e tenentes-coronéis do Exército se transformavam, *da noite para o dia, em coronéis “fictos”,* pois eram promovidos em comissão para comandarem as Polícias Militares, exceção feita somente as do RS e MG. Enquanto isso, as Polícias Civis, em vários estados, eram apenas apêndices das Polícias Militares. Encerr

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*“A cadeira vazia!”*

A espetacularização da segurança pública no Brasil foi aguçada pela atuação de cavernosos atores e fatos.

No Regime Militar, através do Decreto-lei 667/1969, majores e tenentes-coronéis do Exército se transformavam, *da noite para o dia, em coronéis “fictos”,* pois eram promovidos em comissão para comandarem as Polícias Militares, exceção feita somente as do RS e MG.

Enquanto isso, as Polícias Civis, em vários estados, eram apenas apêndices das Polícias Militares.

Encerrada essa fase, começa o rodízio no comando das Pastas de Segurança Pública. Eram coronéis da PM, generais, delegados de polícia, políticos, advogados e promotores de justiça. Em determinado estado, a cadeira de *secretário de segurança chegou a ser ocupada por um médico.*

Nessas fases historicamente recentes, se buscava *taumaturgias para enfrentar o descontrole da violência criminalizada.*

Em terras capixabas, tornou-se “fantástico” assistir a essas “exuberantes” eras. Assistimos *secretários uniformizados com coletes feitos sob medida* para a aparição midiática, protegidos por enorme escolta de “guardas-costas”.

Quando o *showmício acabava, vinham as coletivas, tudo televisionado com manchetes, mostrando a “Liga da Justiça”* em defesa do bem. Ironia pura!

Na doce terra de Anchieta, por meio de um *sonoro escândalo, viu-se até mesmo um “indesejado” e amplo “grampo auricular”.* Seria um fato atípico, diriam depois de descoberta a gravosa agressão à ordem democrática.

Até aqui, Você pode estar sem entender o título dessa crônica factual. *Não é descabida essa percepção.*

Estávamos na primeira década deste século. Fomos chamados para acompanhar o comandante da PMES em reunião com o Secretário de plantão, pois o mesmo queria falar conosco.

Naquela tarde, à “Beira Mar”, adentramos ao então gabinete-mór da segurança pública capixaba. Fomos super bem-vindos. *O alarme então soou!*

Na cabeceira da mesa, o super-secretário designava os assentos estrategicamente distribuídos.

À esquerda assentaram-se um subsecretário e ao lado desse, o então comandante-Geral. À
direita, a primeira cadeira estava reservada para mim.

Pulei intencionalmente *a reservada cadeira  e assentei-me na segunda,* no que ouvi em tom cordial: “por favor, se assente aqui”. *Agradeço, disse eu, mas esse lugar é do comandante-Geral.*

Até então, apenas por pensarmos diferente, *sofríamos todos os tipos de perseguições daquela televisiva figura externa à PMES,* mas as coisas estavam mudando. 

Haviam sido esgotadas, naquele “circo,” todas as *criações paliativas e o povo, nas comunidades, clamava por segurança pública.*

Assim, literalmente, ouvi o *delegado-secretário* nos fazer um apelo: *“coronel, queremos que o senhor assuma o Comando de Polícia Ostensiva Metropolitana”.*

Ainda ouvi estupefato: *“o senhor pode fazer de novo a Polícia Interativa e o Propas, inclusive se quiser, com o mesmo nome”.*

Então, insubmisso, respondi, *por e-mail,* dois dias depois: “agradeço pelo convite a mim formulado por esse secretário, mas não posso aceitá-lo, uma vez que os *meus princípios, estão acima dos meus interesses”.*

Por fim, *a cadeira ficou vazia!*


Vitória - ES, 17 de dezembro de 2022.


Júlio Cezar Costa é coronel da PMES e Associado Sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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