*Registórios e 240 compadres!*

John Naisbitt e Patrícia Aburdene, ao final do século XX, descreveram em “Megatrends”, que a *parceria e a comunitarização* seriam inevitáveis no Século XXI, como macrotendências.

Ao longo de toda a jornada da história humana, *pessoas, grupos e nações se uniram em busca da defesa de seus interesses,* fazendo da união, o ponto de convergência para o *alcance de seus objetivos.*

Assim, a empatia tornou-se uma ferramenta para compreender a socialização dos diversos segmentos humanos. *A causa comum sempre trouxe a consolidação das parcerias.*

As comunidades se definem, segundo Dee Hock, por três características fundantes, quais sejam: *a proximidade, a interatividade e a troca não monetária de valores.* O conceito de comunidade, portanto, está muito além de posicionamento geo-espacial; é uma *relação de afetos e proximidade interativa.*

Ao idealizarmos, na década de 1990, em Guaçuí (ES), a *“Polícia Interativa”,* através do Método Interativo de Segurança Cidadã -MISC”, nos apropriamos de costumes seculares de relacionamento social, por meio das diversas comunidades de interesse.

Antigamente os mutirões de “panha de café”, no interior capixaba, eram chamados de *”registórios”,* segundo nos contou, o quase nonagenário *Sr. Wantuil Monteiro, decano da Família Monteiro,* em Anutiba, distrito de Alegre (ES).

Segundo o Sr. Wantuil, para diminuir as perdas e promover ajuda *a quem menos braços tinha* na colheita anual das lavouras de café, as *famílias se uniam, solidariamente,* para evitar prejuízos econômicos. Além do fator econômico eram produzidos novos laços na convivência e na parceria para resolver outras demandas comunitárias.

No ambiente da ordem pública, os *“registórios”* de então, se transformaram na *interação do Estado com os Conselhos Interativos*, bases locais para a discussão aberta sobre os fatores que condicionam a violência criminalizada.

Deste modo, com o advento do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), essa formatação de parcerias interativas, visando
a comunitarização da ordem pública, ganhou um desenho legal, e que agora, precisa ser *institucionalizado por governadores e prefeitos.*

Outrossim, cabe lembrar que a convivência próxima e interativa, além de muitos *“registórios”*, fez com que o “decano dos Monteiro”, Sr. Wantuil, chegasse a ter *240 compadres*, isto só na pequena cidadela de Anutiba (ES), criando um engajado grupo de relacionamento, nos moldes das Redes Sociais hoje existentes. 

Por fim, a título de registro histórico, cumpre-nos informar que em Anutiba (ES), lugar onde nasceu o famoso cantor e compositor brasileiro Paulo Sérgio de Macedo, *está intacta, a única loja museu do Brasil*, pertencente ao vívido e educado, Sr. Wantuil Monteiro, que ainda hoje, depois de *“70 anos de balcão”*, ali se *reúne com compadres e afilhados, para uma boa e interativa prosa interiorana*.

Brasil, é hora de voltarmos aos *"registórios"*, em defesa da vida e da cidadania.

Vitória- ES, 26 de novembro de 2022.

Júlio Cezar Costa é coronel da PMES e Associado Sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.