”Perdi três vezes...”
Aconteceu que em uma das reuniões de trabalho na sede do Instituto Cidadania na cidade de São Paulo, ouvi quando um famoso membro do grupo sugeriu ao então postulante à presidência da República: “precisamos tratar sobre a extinção das Polícias Militares”, no que respondeu sonoramente o então candidato: “Companheiro, esqueça essa bobagem. Perdi três vezes e não vou perder a quarta”. Enfim, somos nós e as nossas circunstâncias, sempre.
”Perdi três vezes...”
As visões de mundo são mutáveis, como as percepções também o
são. Na Grécia de Platão isso já era observado na “Apologia a Sócrates”.
Religiões, corporações, ideologias, partidos, movimentos sociais e pessoas, todos são alteráveis, adaptando-se às circunstâncias e às épocas para sobreviverem.
Muitos mudaram!
O gravoso é quando os princípios cedem lugar aos interesses e o discurso ético de outrora, torna-se, com o tempo, escanteado e sujeito à evaporação moral.
Ao longo dos últimos 40 anos, o Brasil viu de tudo. Arautos do bem, puristas, revolucionários, grandes manifestações, escândalos e até o surgimento de “novas facções” políticas, que arregimentam paixões em suas movimentadas redes sociais ou sindicais.
Desse modo, sempre há justificativa para as novas posturas. Uns dizem que em nome da governabilidade é preciso pactuar com os desafetos históricos, enquanto outros, simplesmente nada dizem e trocam de lado sem remorso.
Ao observador atento, a política parece igualar os diferentes e tornar convergentes os opostos. Triste ironia ou amadurecimento da democracia?
Certamente isso faz parte do saudável ambiente democrático, pois não dá para ser contra ou a favor o tempo todo. Pacto é a palavra-chave!
Foi nesse espaço de reversão da política que tivemos uma experiência memorável nos anos de 2000 e 2001, após termos idealizado a Polícia Interativa e o Programa de Ações de Segurança Pública (Propas), projetos que escalaram nacionalmente.
Assim, fomos convidados pelo Instituto Cidadania, em São Paulo, para compor uma equipe multidisciplinar com 30 notáveis membros, entre os quais, conhecidas figuras nacionais como Hélio Bicudo, Antônio Carlos Biscaia, Benedito Domingos Mariano e Luís Eduardo Soares, idealizador do Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Havia também um guaçuíense, o ex-prefeito Luiz Ferraz Moulin e o “mineiro-capixaba”, Perly Cipriano.
Percorremos o Brasil em busca de ouvir a sociedade civil. Na maioria das vezes os encontros davam-se aos finais de semana para possibilitar a ampla participação popular.
Ao final, o Instituto Cidadania recebeu uma robusta e inédita proposta para levar a cabo, em caso de vitória de seu pretendente à Presidência.
Opa! Não se apresse. Não há desconexão entre esse relato e o título do artigo. Prossiga a leitura.
Aconteceu que em uma das reuniões de trabalho na sede do Instituto Cidadania na cidade de São Paulo, ouvi quando um famoso membro do grupo sugeriu ao então postulante à presidência da República: “precisamos tratar sobre a extinção das Polícias Militares”, no que respondeu sonoramente o então candidato: “Companheiro, esqueça essa bobagem. Perdi três vezes e não vou perder a quarta”.
Enfim, somos nós e as nossas circunstâncias, sempre.
Vitória (ES), 12 de junho de 2022.
Júlio Cezar Costa é coronel da PMES e Associado Sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública